LISBOA NÃO FALA SÓ uma LÍNGUA
Vários países dentro de um só.
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"Neste bairro de variedades, o mundo tem código postal português."
É hoje um dos centros do comércio imigrante em Portugal.
Pelas ruas encontram-se facilmente dezenas de lojas de bijutaria calçado e roupa para revenda. Não faltam espaços de telecomunicações, cabeleireiros étnicos, assim como restaurantes fingidos de meros apartamentos.
Para quem desconhece as características que traçam este local abeirado ao virar da esquina da Praça da Figueira para o Hotel Mundial, vai estranhar os sotaques, a variedade, os cheiros, os sons da praça e a organização aparentemente confusa.
Vão estranhar porque não sabem que a praça do Martim Moniz alberga a maior fusão da capital - de tal ordem que até lhe dão o nome de mercado aos fins-de-semana. Dos sabores do Oriente até à África, os pequenos quiosques servem delícias nas suas esplanadas a povos de todas as cores enquanto a música de outras de culturas é bradada aos ventos pelas grandes colunas centrais.
Neste bairro de variedades, o mundo tem código postal português. São muitos os apartamentos antigos que resguardam nas suas apertadas divisões a partilha da vida de cinco pessoas. É esta a salvação à crise: os corpos têm de passar pela rotatividade das poucas camas existentes, para que o salário faça render no fim do mês laboral.
Os habitantes da zona não se incomodam e já não olham com desdém ao ouvirem palavras com outras entoações. O inglês e os gestos já são comuns. A rapidez da língua dos indianos já não confunde e a voz impetuosa dos chineses já não assusta. A Igreja portuguesa, a Igreja Católica Apostólica Brasileira e a Mesquita não travam guerras religiosas. Tudo tem o seu lugar.
O cheiro intrínseco da estação de metro não engana por quem lá passa. Os transeuntes são transportados não para a baixa da cidade, mas para um Oriente de especiarias, que na verdade (se eles soubessem) fica ali mesmo ao lado, nos corredores subterrâneos do velho centro comercial dos anos 80.
No fechar do dia, as ruas calcetadas ficam empilhadas de cartão, plástico e caixotes deformados pelas mercadorias já imigradas que por ali descarregaram.
Em alguns cantos a urina dos que não têm tecto queima as narinas. O chão cuspido e as pedras escuras de tantos passos diários dão um ar duro à cidade.
Contudo, o Martim Moniz na sua escuridão e imensidão de cheiros não perde o encanto cru de quem nele habita.
Numa correria passemos para o Intendente...
Pelas ruas encontram-se facilmente dezenas de lojas de bijutaria calçado e roupa para revenda. Não faltam espaços de telecomunicações, cabeleireiros étnicos, assim como restaurantes fingidos de meros apartamentos.
Para quem desconhece as características que traçam este local abeirado ao virar da esquina da Praça da Figueira para o Hotel Mundial, vai estranhar os sotaques, a variedade, os cheiros, os sons da praça e a organização aparentemente confusa.
Vão estranhar porque não sabem que a praça do Martim Moniz alberga a maior fusão da capital - de tal ordem que até lhe dão o nome de mercado aos fins-de-semana. Dos sabores do Oriente até à África, os pequenos quiosques servem delícias nas suas esplanadas a povos de todas as cores enquanto a música de outras de culturas é bradada aos ventos pelas grandes colunas centrais.
Neste bairro de variedades, o mundo tem código postal português. São muitos os apartamentos antigos que resguardam nas suas apertadas divisões a partilha da vida de cinco pessoas. É esta a salvação à crise: os corpos têm de passar pela rotatividade das poucas camas existentes, para que o salário faça render no fim do mês laboral.
Os habitantes da zona não se incomodam e já não olham com desdém ao ouvirem palavras com outras entoações. O inglês e os gestos já são comuns. A rapidez da língua dos indianos já não confunde e a voz impetuosa dos chineses já não assusta. A Igreja portuguesa, a Igreja Católica Apostólica Brasileira e a Mesquita não travam guerras religiosas. Tudo tem o seu lugar.
O cheiro intrínseco da estação de metro não engana por quem lá passa. Os transeuntes são transportados não para a baixa da cidade, mas para um Oriente de especiarias, que na verdade (se eles soubessem) fica ali mesmo ao lado, nos corredores subterrâneos do velho centro comercial dos anos 80.
No fechar do dia, as ruas calcetadas ficam empilhadas de cartão, plástico e caixotes deformados pelas mercadorias já imigradas que por ali descarregaram.
Em alguns cantos a urina dos que não têm tecto queima as narinas. O chão cuspido e as pedras escuras de tantos passos diários dão um ar duro à cidade.
Contudo, o Martim Moniz na sua escuridão e imensidão de cheiros não perde o encanto cru de quem nele habita.
Numa correria passemos para o Intendente...