LISBOA JÁ NÃO FALA UMA SÓ LÍNGUA
Uma visão da Mouraria pelos seus próprios habitantes. Um dos bairros lisboetas mais antigos e dos mais tradicionais é também um dos maiores centros imigratórios. Dentro das suas ruelas Portugal faz fronteira com a China, Moçambique, Guiné, Nova Iorque, Ucrânia, Bangladesh, Índia e Nepal. O bairro é desde o tempos dos Mouros estigmatizado à degradação dos edifícios, aos sem-abrigo, à pobreza, à exclusão social, prostituição, tráfico de droga e toxicodependência. Contudo na última década têm sido criados novos projectos independentes e programas pela Câmara Municipal de Lisboa que visam melhorar as condições e tornar a Mouraria um local multiétnico bem-aceite. As primeiras identidades a chegar em grande massa datam de 1976. Muitos eram indianos, hindus, muçulmanos e africanos, estes na sua maioria vindos de Moçambique já com nacionalidade portuguesa. Nesta zona predominam, desde da década de 80, as comunidades de imigrantes que vieram apoiados pelos empréstimos de amigos e familiares, com o objectivo de juntar-se a outros familiares ou conhecidos que já habitavam na cidade. Os que não tinham apoio familiar precisaram de recorrer a terceiros de forma a conseguirem documentação para se fixarem no país. Ilustrando essa realidade o SEF tem revelado a existência de redes de auxílio à imigração ilegal com origem na República Popular da China (RPC). Estas redes cobram elevados valores que atingem milhares de euros, para facilitarem o processo de legalização através do fornecimento de contratos de trabalho e de residências falsas, vistos e documentos de viagem forjados. A actividade comercial e a gestão de restaurantes tornou-se nas principais fontes de rendimento para a comunidade em geral. O comércio que tomou o interior dos dois centros comerciais da Mouraria e Martim Moniz passou a ser dominado na sua maioria por chineses, indianos e paquistaneses. Estes dedicam-se à venda grossista, sendo os principais fornecedores para o comércio ambulante praticado pela comunidade cigana feirante. A interculturalidade já se começa a sentir e apesar da diversidade o convívio é pacífico, embora ainda se sinta que há mais caminho a percorrer. Os próprios imigrantes fazem um esforço para se integrarem principalmente os que têm jovens na família, “os miúdos frequentam escolas portuguesas, aprendem português, os pais acompanham as notícias e a situação do país, a comunidade publica regularmente dois jornais em chinês, comem comida portuguesa e há muitos que querem aprender português”, afirma Nuno Franco, mediador comunitário e membro da Associação Renovar a Mouraria. O inglês e os gestos tornaram-se quase as "línguas oficiais" deste bairro típico lisboeta. O português começa a ganhar espaço dentro da comunidade imigrante e as tradições começam a entrelaçar-se, pois como o próprio município afirma "Lisboa, é hoje, como sempre foi, uma cidade multicultural". |